segunda-feira, fevereiro 23, 2009

o que a casa guarda

Vejo parte do recheio da nossa casa em Portugal ser empacotado e seguir para Cambridge, onde servirá para rechear aquele que será palco do episódio seguinte das nossas vidas. São coisas que achamos duplicadas, ou distintas do padrão ou padrões decorativos, ou prolixas em número ou em género, que farão serviço útil em segunda morada; mas é também aquele núcleo essencial que nos define e nos é imprescindível e nos nãopermite um divórcio geográfico – ainda que temporário, ambicionadamente temporário. É a aquilo a que a língua inglesa designa por household – o que a casa guarda.

Mas uma casa não guarda apenas objectos, coisas, na sua definição inanimada e utilitarista. Guarda, em cada peça, um uso, uma experiência, uma breve memória – a personalidade, um traço de vida; e são também as coisas que ficam, os móveis que fazem guarda, as molduras que vigiam a partida. É estranha a sensação de ver dividido o que a casa guarda, porque é uno o que nos guarda a vida e que é a nossa própria vida.

E vejo isso, o que a casa guarda, ser posto em caixas numeradas, codificadas, alinhadas, cuidadosamente, como se tudo tivesse a fragilidade de procelana e valor de diamante. Quem nos guarda o que a casa guarda fá-lo com a certeza de movimentos de quem os acha repetidos e com a absoluta discrição de quem os sabe sempre estranhos. Quantas moradas terão já dividido e empacotado? Quantas vidas terão já visto passar entre as mãos que palpam o valor pressentido das coisas, nos braços que sentem o peso da emoção de cada objecto? Quantas vidas terão já procurado adivinhar no inventário pessoal pulverizado que encaixotam? E nas coisas que ficam – nas molduras que mantêm a vigia, nos móveis que cumprem a guarda? É uma confidência quase velórica de quem o já viu acontecer a conta de vezes que o faz natural.

Mas sei que o que a casa guarda não se detém dos objectos que hoje se vêem separados. O recheio que hoje parte são antes memórias avezadas, espaços já experimentados, que farão conhecida a morada (ainda) estranha que quizemos e nos alongará a vida que as casas, assim, nos guardam.

Porque o que a casa guarda guardamo-lo nós – somo nós.

segunda-feira, outubro 13, 2008

o primeiro amanhecer



Morning has broken, like the first morning

domingo, outubro 12, 2008

hiato (2)

escrevia eu a 5 de Maio de 2006 que:

"do Lat. hiatu, acção de abrir a boca:
1. Encontro de duas vogais sonoras, uma no fim de uma palavra, e a outra no princípio da palavra seguinte, dando mau som e obrigando a abrir muito a boca; orifício; fenda; intervalo;
2. Falha; lacuna.

Abro a boca em mudo som pela lacuna que o meu tempo esquivo - volátil, volúvel, que se esvai, esvanece - me impõe, numa moribundez e estupor de escrita d'a cor das avestruzes modernas."

Mas o que me bloqueou a intenção da escrita, sei-o hoje, não foi esse tempo vaporoso que me fugiu sempre, à laia de uma locomotiva sem misericórdia que se afasta da plataforma do momento presente no exacto instante em que julgo alcançá-la; não, não foi a aquela volubilidade que acusei impor-me mudicidade, moribundez e estupor; não, não foi o peso do chumbo profissional que arrastei acorentado desde a última vogal sonora aqui escrita até agora em que volto a escrever uma vogal que quero interiamente sonora, gritante, dilacerante. Foi antes a ausência de espaço no outro eu que escreve quando este se elapsa e relapsa da vívida textura do tecido presente. Esse agora que o meu incógnito alterego requeria, sem que eu soubesse, na externa face da moeda dupla que nos faz para que se exponha à luz pituitária da escrita essa face interna totalitária e egoísta.

Sei-o agora graças ao Miguel Esteves Cardoso e à sua explicação de Português sobre o verbo irregularíssimo escrever. Sei-o agora, bem, que não se ouviu outra vogal n'as avestruzues modernas porque a minha face externa se tem achado tão cheia de tudo o que resoa, retine e reluz e nos prende à escrava textura quotidiana.

Mudei de vida. Esta é a segunda vogal sonora.

segunda-feira, junho 05, 2006

pisa papéis


Em jeito de Carla Hilário Quevedo, definitivamente não me farão acordar assim.

sexta-feira, maio 26, 2006

mais que uma questão de propriedade

Hoje, cumprindo um caminho que o Eng. Sócrates foi mostrando ser inevitável, o governo anunciou que cessará o termo da lei que atribui aos farmacêuticos a exclusividade da propriedade das farmácias.

Sendo eu farmacêutico, seria talvez esperado que me insurgisse contra a medida ou que, no limite, não concordasse com a mesma. Não é assim. E o argumento é simples e claro. A prática farmacêutica, na acessão inscrita legalmente, inclui não a gestão de um estabelecimento de dispensa ao público como actividade primordial, mas antes a prestação de serviços e dispensa de medicamentos à população, assegurando a sua utilização racional - com qualidade e segurança. Esta última deve ser indiscutivelmente - e reconhecida como tal - a trave mestra da actividade farmacêutica em Farmácia Comunitária.

Embora em relação a esta questão não tenha qualquer dúvida que a esmagadora maioria dos farmacêuticos assume o serviço ao utente como o próposito basilar da sua actividade, é sabido que a miúde a profissão farmacêutica foi acusada de colocar os interesses particulares, quando proprietários, à frente dos interesses dos utentes das suas farmácias. Esta acusação - sendo maioritariamente infundada - foi contaminando a relação entre utentes e farmacêuticos, com claro prejuízo para os primeiros.

Por isso esta medida, que isenta os farmacêuticos da exclusividade sobre a propriedade da farmácia, libertar-nos-á de um fardo que, em termos globais, tem prejudicado a imagem dos farmacêuticos junto da população e, por esse motivo, o sucesso e eficácia da mensagem a passar aos doentes - para a mais correcta utilização dos medicamentos.

sexta-feira, maio 19, 2006

manuel maria carrilho


é seguramente uma das pessoas mais azedas, enfadadas, snobs, enervantes, implicativas, agressivas, intolerantes, psicóticas, inábeis que conheço.


Tenho a certeza que o Mário Crespo concordará comigo. O seu controlo é prova inabalável das suas singulares qualidades jornalísticas. Eu tê-lo-ia sujeitado certamente ao mais vil vernáculo injuriante da língua portuguesa. Sem apelo nem agravo.

quarta-feira, maio 17, 2006

é essencial parar

e encontrar oportunidade para a reflexão sobre o que nos move, para que não corramos o risco de nos vermos, tarde, em movimento cinético perdido de sentido, tolhado de objectivos fundamentais, genealógicos, apenas porque é necessário que corramos - sempre; é imprescindível que descubramos o nosso espaço mental essencial para que mantenhamos a cabeça acima do nevoeiro entorpecedor que nos marca o ritmo artificial de metrónomo imposto.

E é sobretudo preciso clarividência e serenidade para perceber isso.

segunda-feira, maio 15, 2006

ainda não disse nada

sobre o último congresso do CDS. Segui-o o mais próximo que a cobertura televisiva me permitiu e com a insenção emocional que o timbre tépido do sol alentejano de Troia me proporcionou. Para mim a conclusão do congresso é imediata e absolutamente clara: o partido está num beco de saída complicada - está dividido, dividido ao meio; está formalmente dividido, assumidamente rupturado.
E por isso é essencial ao CDS que se aproveite a oportunidade do doce passeio do partido socialista para reafirmar a política do próprio CDS. Tal como numa empresa é crucial a definição e redefinição de uma política, da qual se emanem objectivos que componham uma estratégia e da qual resultem valores que suportem essa estratégia, é decisivo para o CDS que se cumpra este exacto exercício: é imprescindível que se redefina a política do partido (no seu sentido institucional) e que a partir dela se estabeleçam os objectivos estratégicos da actividades políticas do CDS para os próximos curto e médio prazos.
Poder-se-ia pensar que este congresso poderia ter servido (ou que serviu) para isso. Não foi o caso. Este congresso apenas cumpriu o destino traçado por muitos: confirmar a ruptura conhecida, nada mais.
Esta redefinição far-se-á certamente durante os próximos meses: se não em congresso em colunas de jornais, em paineis televisivos, em blogs, etc. E teremos certamente um novo congresso ainda antes de se alinhavarem as novas eleições legislativas. Talvez para o ano que vem. Assim veremos.

sexta-feira, maio 12, 2006

precaridades da lusofonia (II)

Tomo um taxi de Paris para Maurepas e dou por mim sentado atrás de um motorista que me diz ser angolano, com família próxima em Portugal - em Lisboa. Mas di-me-lo num francês tão arranhado que sou forçado a pedir-lhe que me fale antes em inglês.

precaridades da lusofonia (I)

Tomo um voo para Paris e dou por mim sentado ao lado de um casal - farto, luminosamente rosado, excessivamente adornado por metal de luz de ouro - que entre si fala num martirizado português de marquise, atacado em golpe fatal quando em resposta à questão solícita da hospedeira aquele sofrido português se transforma num triste dialecto metamórfico: Jus de pomme.

sexta-feira, maio 05, 2006

hiato

do Lat. hiatu, acção de abrir a boca:
1. Encontro de duas vogais sonoras, uma no fim de uma palavra, e a outra no princípio da palavra seguinte, dando mau som e obrigando a abrir muito a boca; orifício; fenda; intervalo;
2. Falha; lacuna.

Abro a boca em mudo som pela lacuna que o meu tempo esquivo - volátil, volúvel, que se esvai, esvanece - me impõe, numa moribundez e estupor de escrita d'a cor das avestruzes modernas.

sexta-feira, abril 28, 2006

imagens com cor

Imagens com cor - que vivamente recomendo para adorno de vida de quase tudo o que se quiser.




Um projecto de Catarina Zimbarra e Maria João Andrade.

quinta-feira, abril 20, 2006

é uma letra que se lê

Do Paulo Pinto Mascarenhas. Eu lerei, diariamente.

1506-2006

quinta-feira, abril 13, 2006

pela Humanidade

Não apenas para não esquecer.
Não apenas para iluminar a memória.

Pela Humanidade.




Em Lisboa, no Rossio, dia 19 de Abril - e 20 e 21 - com o desafio lançado por Nuno Guerreiro.

terça-feira, abril 11, 2006

por um voto se ganha, por um voto quase se ganha - e vice versa

A Itália é um país singular, em muitas coisas; a política é sem dúvida uma delas. E a despeito de outros comentários porventura mais apropriados nesta circunstância, acho que a prestação recente da política italiana (sobretudo pela mão hilariante de Berlusconi) tem, se não outros, um grande crédito: chamou a si a sociedade civil - conforme constataram os níveis de participação eleitoral e os níveis de audiência e fervilhação que o escrutínio em fotofinish proporcionou.

E a singularidade (que não é neste caso de nenhuma rapariga loura) presta-se também à risível cena de termos de um lado um dos candidatos que reclama uma “bela vitória, comovente e incontestável” – mesmo sendo por umas escassas migalhas ainda não confirmadas em livro de lei; e termos outro dos candidatos que se recusa a reconhecer a vitória do adversário e promete a formação de uma grande coligação para o Governo.

Bem sei que não tem chancela da Endemol, mas talvez por isso, vai valer a pena acompanhar a par e passo este novo programa em formato ainda mais real.

domingo, abril 09, 2006

do avesso

Bem sei que é condição da vida o verso e o reverso do poema profissional, não raras vezes sem rima ou com frases cuja similaridade nem tão pouco garante a métrica. Mas nesta última semana vivi num desses sonetos sem rima, estranho aos versos que se impunham como novos, à sua estrutura e ao ritmo; porque tudo é novo, tudo se exibe do avesso.

domingo, abril 02, 2006

recuperando recortes antigos

acho em delícia um artigo de opinião de Nuno Henrique Luz na revista do Independente de 19.03.1999, que leva o título (feito novamente actual e lançado em televisão por Nuno Rogeiro nas últimas presidenciais): "Soares é fixo".

Dizia NHL, em 1999, que "uma pessoa vê Soares na televisão, de chapéu na mão, a tentar fazer-se entender por Kassinger e Kofi Annan e Federico Mayor, e pensa: aos mitos da política há sobretudo que deixá-los quietos, para que fermentem e amplifiquem o seu esplendor, como os queijos".

Gosto sobretudo da designação mito, que coloca na esfera da ficção e da fantasia o real impacto do Dr. Mário Soares em Portugal. Já acho (ou pelos menos cumpre-me dizê-lo) de gosto discutível a comparação muito plástica entre a imobilização a que Mário Soares se deveria prestar (e ter prestado) e o processo de fermentação do queijo - ainda que se alegue ser para servir o seu esplendor.

Em todo o caso, este recorte poderia ser não de há 7 anos mas de há dois meses. Prova de que a Terra, pelo menos na paralaxe temporal errónea que tolha o nosso país, gira muito lentamente.

quinta-feira, março 30, 2006

a não opção é sempre a melhor das opções

Circunstâncias há, por outro lado, em que a benevolência do desfecho parcial trágico resolve, por absoluto, a dúvida que era aguda, cortante - e esta foi uma delas. Já se sabe, e eu soube de novo, que, tal como nos trouxe Woody Allen no seu último match point, a não opção é sempre a melhor das opções. Por ser, pelo menos, a que menos custa.

quarta-feira, março 29, 2006

neste fórum o tema em debate era outro

A contestação à lei laboral que pretende autorizar o despedimento, sem justa causa, de jovens com menos de 26 anos, exibiu hoje um carácter de bicefalia social autofágica.

Deixando para outra circunstância a discussão sobre aquela lei, é importante que se perceba que entre o processo contestatário - mais ou menos justificado, mas tendencialmente democrático e ordeiro - se começou a desenvolver um processo tumorigénico que ameaça excluir a contestação saudável sobre a matéria em causa. Como sucede nos incidentes de natureza neoplásica, a antineoplasia policial cirúrgica nada resolve - apenas retarda ou atrasa novo aparecimento tumoral. E da mesma forma como na imunossupressão se encontra facilidade ao desenvolvimento neoplásico, a contestação à lei laboral serviu, como se viu hoje, a oportunidade para chamar à luz parisiense da triste ribalta os jovens incendiários de tumores recentes - em clara metástase social.

E assim, no lugar de se dar oportunidade à discussão sobre a lei laboral, acabar-se-á certamente a discutir a questão imigratória europeia, o problema da integração social das gerações imigrantes nascidas em território europeu. Válido, muito válido - aliás um dos problemas nucleares do presente europeu -, mas neste fórum o tema em debate era outro.

terça-feira, março 28, 2006

o custo da oportunidade

Circunstâncias há em que o custo da oportunidade é de difícil medida e o aqui e ali pesam nos pratos dos seus braços justos atiram o fiel da balança para a feliz indecisão que o põe a olhar o céu; feliz indecisão porque a massa que se equilibra é - sempre - de natureza feliz.

Dir-se-ia: faz como aquele da moeda ao ar, par ou ímpar, tanto faz. Não é assim. A faculdade da escolha é porventura o pior dos atributos humanos. A capacidade oferecida de reflexão, ponderação, equação - impõe-nos o terrível ofício do arbítrio próprio. E por essa razão, qualquer que seja a decisão, ficar-nos-á - para sempre - o travo de memória que se eternizará (como a memória homeopática das diluições infinitas) e nos questionará se o peso, pesado, em favor e desfavor da ponta que desfez o nó foi bem medido e o juízo o correcto.

É uma dúvida aguda, cortante.

sábado, março 25, 2006

a cor da terra

Taman Negara


terça-feira, março 21, 2006

a cor do sonho

Pulau Langkawi





The Langkawi archipelago is a cluster of 99 islands just off the coast of Kedah, close to Perlis and just south of Thailand.

segunda-feira, março 13, 2006

a metamorfose do diário de bordo

O Blog é, originalmente, um sítio na rede que serve de diário (de bordo) e cuja designação resulta precisamente dessa funcionalidade original: web log. Mas desde o seu surgimento em 1995, o blog tornou-se muito mais que um simples caderno electrónico para deposição de notas expressas; hoje o blog é manifestamente uma das formas mais rápidas e eficazes de comunicação - pública, de massa, e sem limitação de qualquer espécie.

O blog é actualmente, em muitas circunstâncias, o palco primogénito e gerador de ideias e discussões - conceptuais, culturais ou simplesmente mundanas. E por esse motivo, ou como causa dele, são já vários os opinion-maker que fazem deste espaço convencionado de blogosfera o seu rascunho de opinião. Atento a esta realidade está também o mundo universitário, que neste caso feliz resolveu pôr em avaliação a performance bloguista dos seus alunos. Um treino à escrita, um treino à leitura, um treino à crítica e um treino à exposição. Meritório.

Já poucos são os casos naïf de blogs originais. Mas esta metamorfose do diário de bordo serve por inteiro o lucro da discussão universal e a absoluta liberdade de expressão. É sem dúvida a ascenção da opinião da sociedade civil - genuinamente considerada. E por isso esta metaformose estará certamente de futuro na génese, ou pelo menos na via, de movimentos culturais e políticos.

sábado, fevereiro 18, 2006

crime sem castigo



O enredo não é novo. A história é batida. Mas a narrativa é brilhante.

Assente em três pilares de contexto, largados em deixas premonitórias à laia clássica, o filme lança-nos habilmente na angústia aterradora que vai consumindo Chris Wilton (
Jonathan Rhys Meyers).

1. O primeiro desses pilares é a cena de abertura, que dá conceptualmente nome ao filme e oferece pano de fundo à trama narrativa de Woody Allen: a vida é na sua essência feita de circunstâncias que, como um bola de tennis, podem, ao bater na rede, passá-la ou tornar ao nosso campo - e perdermos. Ou como um anel incriminador que atirado ao rio fica em terra absolvente.
2. O segundo é o breve primeiro plano , valorizado mais à frente por Alec Hewett (
Brian Cox), da capa do Prestuplénie i Nakazánie de Fiódor Dostoiévski: que serve de timbre pré-condicionado para o epílogo que se adivinha.
3. O terceiro é o diálogo discreto entre Chris Wilton (
Jonathan Rhys Meyers), Tom Hewett (Matthew Goode), Chloe Hewett Wilton (Emily Mortimer) e Nola Rice (Scarlett Johansson) sobre a sorte, o destino e a fé.

Com uma mestria narrativa única, Woody Allen leva-nos ao poço sem fundo em que Chris lentamente se afunda, em espiral, por tentação, obsessão e mentira. E, como nas tragédias clássicas e na literatura russa, atinge-se, sem saída, um beco insolúvel que se resolve, por abrupto, mas sem nunca relevar Chris da culpa imputada e que lhe mereceria, por sentença própria, castigo. Match point: uma jogada de meste que decide o jogo.


terça-feira, fevereiro 14, 2006

vírgula

marca de uma mudança em assíndeto de fases que se são apostas no cumprimento benévolo do lucro único do momento sincronístico fundador; sinal enfático da emergência da oração nova sucessiva na construção do sintagma que se não completa nunca.


[Solução: memórias de um beijo]

sábado, fevereiro 11, 2006

um filme de opinião



Já li diversas opiniões sobre Munich de Steven Spielberg. Parece prevalecer o voto pela mediocridade relativamente ao que Spielberg nos habituou. Discordo.

Compreendo a desilusão de quem esperava um relato histórico essencial; não era manifestamente previsivel que Spielberg o fizesse. Compreendo a desilusão de quem esperava uma marcada tomada de posição pró-israelita; não era previsivel que Spielberg o fizesse. Não eram estas as minhas espectativas.

Munich é fundamentalmente um filme de opinião. Sem pretensões artísticas complexas ou posições políticas assumidas. O que Spielberg nos explica em Munich é que a questão inicial israelo-palestiniana - fundada numa disputa histórica pelas fronteiras religiosas dos seus territórios - se tornou, fruto dos limites extremados do massacre e contra-massacre, primeiro uma questão israelo-árabe e hoje uma guerra assumida do mundo árabe contra os princípios e cultura ocidentais.

São várias as circunstâncias que Spielberg nos oferece para a reflexão - como janelas de destaque num texto escrito de opinião. A primeira é o discurso de um dos responsáveis pelo massacre olímpico quando é libertado pelos alemães - que fundamenta a acção terrorista com a necessidade de publicitação da sua luta. A segunda é conversa riquíssima que Avner (Eric Bana) tem com Ali, um operacional da OLP - em que Spielberg nos diz claramente que os argumentos de judeus e palestinianos são exactamente os mesmos e, nesta medida, igualmente legítimos. A terceira é a exteriorização da dúvida moral de Robert (Mathieu Kassovitz). A quarta é, finalmente, o diálogo de encerramento de Avner com Ephraim (Geoffrey Rush), sobre o plano de fundo não inocente das Twin Towers.

Munich de Spielberg diz-nos, com a mestria rara de quem tem o dom da comunicação pictórica e cinematográfica, que a questão de fundo que motivou o massacre 1972 sofreu uma metamorfose profunda em jeito de mutação adaptativa às reacções e contra-reacções de judeus e palestianaos. A somação de ataques terroristas apenas leva à somação reactiva de contra-ataques também terroristas. A eliminação de líderes sanguinários apenas leva à legitimação da eleição de outros líderes mais sanguinários. O cenário final do filme - as Twin Tower ainda erguidas - serve para nos dizer que em 1972 se iniciou uma guera que perdura até hoje - cada vez mais global, cada vez mais destrutiva. Sem solução.

Munich é um filme de opinião contra a guerra religiosa. Em qualquer dos seus termos. E por isso gostei.



[declaração de conflito de interesses: sou um assumido simpatizante da causa judaica]


quinta-feira, fevereiro 09, 2006

haja quem entenda o fundamental

e não deturpe os princípios basilares da nossa civilização em nome de uma culpa envergonhada por crime nenhum.

Contra ninguém. Pela cultura e liberdade ocidentais. As que são nossas.

Não estive , mas com pena.

prodigiosa

a forma como Jorge Coelho defendeu ontem na SIC, na quadratura do círculo, a manutenção da golden share do Estado na PT. Segundo o esclarecido membro do PS, é decisivo que, em sectores estratégicos como as telecomunicações, se mantenha uma presença do Estado, para evitar aquilo que na sua opinião seria, por oposição à presente situação, uma coisa sem leis nem regras, seria a anarquia total.

É inacreditável como é que já volvidos 30 anos sobre a frebre das nacionalizações em série há ainda quem acredite que a regulação do mercado apenas se cumpre com a presença do Estado nas empresas. Este é sem dúvida um preconceito mineralizado que só morrerá com a renovação geracional que a orderm natural das coisas nos trará.

domingo, fevereiro 05, 2006

a cor de um ano

A cor das avestruzes modernas fez um ano no passado dia 24 de Janeiro.

Num tempo em que a moda coincide com a maioria e estrangula o padrão de distribuição do pensamento à anormal constrição da Gausiana normalidade, arrastando para o mediocre primeiro quartil o ensaio de opinião que se requeria, acho neste blog a oportunidade sublime de me alistar na luta que entendo minha por propriedade, assumindo assim a negação pel' a cor das avestruzes modernas, que nos tinge de desfoque a geração e nos impele com uma força mineral para a inércia dos novos tempos.Que achem neste espaço esse ímpeto de discussão que devia ser-nos próprio, como uma dívida nunca paga de sermos pensantes.

a cor das avestruzes modernas, 24.01.2005

Utilizando como catapulta de motivação o doce golpe de estado presidencialista, impus-me a participação na tarefa geracional de obviar a natural inércia do tempo que nos coube. Consciente da limitação da minha cor, acho pelo menos bem lançado o ímpeto inicial deste blog - que tem funcionado para mim, no seu limite, como um quasi-Instituto Mnémosine de Saul Bellow. Que o achem assim também os amigos que me têm ajudado a dar cor a estas avestruzes modernas.

desproporcionalidade indirecta

É certo o assumido fraco gosto dos cartoons de Maomé publicados em diversos jornais europeus esta semana. É certo que os muçulmanos, em especial os radicais muçulmanos, têm um conceito muitos especial sobre a reprodução de imagens do seu profeta. É certo que haveria muitos outros assuntos a caricaturar, manifestamente com superior lucro cómico.

Mas a reacção muçulmana na Síria, Irão e países afins tem sido profundamente desproporcionada, sobretudo porquanto as imagens primogénitas haviam sido publicadas em Setembro de 2005.

Não haja dúvida que a celeuma agora gerada é fruto de um oportunismo político dos governos destes países, que querem aproveitar uma parca semente deitada à terra por um infeliz exercício ocidental de liberdade de expressão para gerar um novo episódio desta guerra civilizacional, pretendendo benefícios justificativos para as suas previsíveis acções mais radicais - na questão iraniana da produção de energia nuclear e na questão israelo-palestiniana.

sábado, fevereiro 04, 2006

a cor da musica que oiço

passa agora a fazer parte das minhas avestruzes modernas, para que a circunstância da discussão se cumpra também nessa morada que me é essencial como metrónomo do ritmo sináptico que me anima.

sexta-feira, dezembro 30, 2005

fico mais descansado

por saber que a queda que o nosso primeiro-ministro deu em lazer de inverno nesse país europeísta, que traça de branco uma cruz na sua bandeira rubra, foi convenientemente abordada com um eficaz anti-inflamatório, gelo local e que para hoje está agendada uma ressonância magnética.

Não compreendo - e isso é manifesto sinal de declínio do jornalismo de qualidade em Portugal - é porque não avançaram no serviço noticioso matinal a molécula concreta que circula nas gran-vias plasmáticas do nosso primeiro-ministro: será um ibuprofeno em racemato, um dexibuprofeno, um tradicional ácido acetilsalicílico, um naproxeno, cetoprofeno, metamizol magnésico, diclofenac ou o semelhante aceclofenac, meloxicam ou piroxicam de toma diária ou a nimesulida preferencialmente inibidora da COX-2, ainda que apenas confirmada em ensaios in vitro. E a terapêutica concomitante que poderá o nosso primeiro-ministro estar a fazer e que poderá impor riscos acrescidos relacionados com o potencial de interacções associadas?

Não há dúvida de que o nosso jornalismo que se quer de informação ainda tem muito para andar. Porque o essencial nunca nos é dado. Mas ainda assim fiquei mais descansado.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

o regresso

Volvidos uns turbulentos meses em que o labor me tomou em absoluto, votando-me ao trágico exercício de parca ou nula escrita, hei-me de volta ao meu a cor das avestruzes modernas. Vencida (ou pelo menos controlada) a infecção sistémica que me comprometia na totalidade o dia (e a noite), tenho por fim o lucro de achar nesta infecção já de fase crónica um lugar de tempo entre recidivas para cumprir o prazer da letra que quis que este blog nascesse.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Portugal cresce 17% ao ano

No último Natal tivemos uma árvore de 60 metros e este ano temos uma de 70 metros.

terça-feira, novembro 15, 2005

à condição

Humildade à condição é sem dúvida um bom início para a "inovação" que se apregoa.
Humilde mas só se fosse eleito.

sexta-feira, novembro 11, 2005

tenham medo

da ameaça.

quarta-feira, novembro 02, 2005

valeu a pena ver

a entrevista de Constança Cunha e Sá a Mário Soares, hoje na TVI. Não pelo discurso, não pelo programa presidencial, não pela diferenciação intelectual e humanista tão vendida pelo papá da nossa democracia. Mas pelo riso. Fundamentalmente pelo riso.

Hoje senti de facto saudades de ver Mário Soares no activo: e tive-o ali, recuperado no tempo, à laia de um holograma perfeito dos tempos agitados do finca-pé ao cavaquismo, e tive saudades. Percebi hoje que o arrefecimento visceral do meu impecto político não foi fruto de um amadurecimento mas sim da ausência de Mário Soares no activo - o nosso único político profissional digno desse nome.

Confesso que tinha saudades de ver ao vivo o modo hilariante e descarado como Mário Soares subverte a realidade ao seu prisma único. E nem mesmo a assumida posição de advogada feliz do diabo de Constança Cunha e Sá o demoveu de insistir no seu exercício benévolo de surrealismo. Ficámos a saber que Guterres cometeu como primeiro-ministro o erro de ser "boa pessoa de mais" e que a sua saída do governo não foi um abandono mas uma "inevitabilidade por uma escolha pessoal que todos temos de respeitar"; que Sócrates tem sido uma agradável surpresa por ser exactamente um "anti-guterres" [ou seja na minha leitura imediatista: mau com'ás cobras]; que a culpa disto tudo é dois anos [segundo contas de Mário Soares] dos governos da direita e sobretudo da fuga de Durão Barroso para a Comissão Europeia [que aqui não se aplica de todo aquela lógica da "inevitabilidade por uma escolha pessoal que todo temos de respeitar"]; mais - e esta é a melhor de todas - que "o défice, esse grande monstro, é obra dele [de Cavaco Silva], porque em 1993 o défice andava em 7-8% [foi pena não ter recuado mais uma década para concluir que o défice afinal nasceu mesmo, entre outras, da obra grandiosa da descolonização tal como foi feita].

E depois foram aquelas deliciosas agressões descaradas que só não são ofensivas pelo enorme disparate de que se revestem. Que Cavaco Silva padece de ser uma pessoa com uma noção "vá lá, pouco estruturada do que é a democracia". Que não sabe discursar e que como Primeiro-Ministro chegou mesmo a pedir-lhe a ele [Mário Soares: autor de nove livros de referência escritos nos últimos dez anos, presença em inúmeros colóquios e conferências, cursos, um humanista de nomeada, com conhecimentos de filosofia, de História, de literatura, enfim - nas palavras do próprio] que o fizesse por si - um pobre economista que só sabe de economia e que nada sabe de humanismo, filosofia, História, literatura, enfim.

Para Paulo Pinto Mascarenhas e outros que preferiram inexplicavelmente emoções de outra frequência [se se tentassem em zapping estou certo de que concordariam comigo], aqui ficam as minhas notas e a prova de que valeu a pena ver a entrevista de Constança Cunha e Sá a Mário Soares, hoje na TVI.

Pelo riso. Fundamentalmente pelo riso.

terça-feira, novembro 01, 2005

agudo temor

me ocupa estes dias de véspera de audição de um sistema que se quer qualificado e de que me leva o cunho que me imputa um temerosa responsabilidade - que faz parecer que a globalidade organizativa se circunscreve à individualidade assinada. O tempo que se soçobra para a revisão do sistema mas que se obsta à minha liberdade disto tudo amplia em acréscimo doloroso este meu agudo temor que me ocupa estes dias de véspera de audição de um sistema que eu quero que pareça qualificado porque me leva o cunho e me imputa uma responsabilidade - que eu quero, por fim, parabenizante.

quarta-feira, outubro 26, 2005

eu sei que a culpa é minha

mas ontem, durante o discurso de apresentação do manifesto (porque é que a esquerda gosta tanto dos vocáculos que tomam início com a porção "manif"?) de Mário Soares para a campanha presidencial, dei por mim num sono brando apenas interrompido pelo êxtase do protegido soarista António José Teixeira.

Eu sei que a culpa é minha - que é do cansaço que me aflige a vigilia e do trânsito lento que me compromete a acuidade - mas ontem, durante o discurso de Mario Soares, dei por mim a pensar em tudo menos naquilo que ouvia - que se afastava progressivamente numa ladaínha que me embalava o raciocínio dealbulante por outras paragens.

Eu sei que a culpa é minha, mas o discurso de Mário Soares quedou-se, aos meus ouvidos, em coisa nenhuma.


Terá a culpa sido mesmo minha?

sábado, outubro 22, 2005

preceitos da democracia

PCP e BE já se tinham declarado contra esse desvirtuado acto de concretização democrática que é o referendo público em questões de legislação de matéria social e cultural. O que não se estranha - ambos têm uma noção muito própria da democracia. Mas agora parece que também Sócrates ameaça sucumbir à tentação de usar a sua maioria parlamentar para contornar as dificuldades que o Tribunal Constitucional parece estar a impôr à sua pergunta.

A concretizar-se o repto de Jorge Coelho, consentido nas palavras do Primeiro-Ministro, voltaremos às velhas práticas democráticas do partido socialista. Preceitos da Democracia.

quarta-feira, outubro 19, 2005

este senhor tem algum problema

psíquico enquistado em local de difícil remoção. Só assim se entende a recorrente referência a esta questão.

de histórico respeitável (ainda que discutível) a marioneta e depois a boneco da nintendo

Mario Soares tem tido um percurso de extrema coerência, nem sempre, é certo, por culpa própria.

De preso político e exilado (auge do percurso de qualquer político) passou a líder político, de líder político a Primeiro-Minitro, de Primeiro-Ministro a Presidente da República, de ex-Primeiro Minitro e ex-Presidente da República passou a histórico respeitável, de histórico respeitável passou a comentarista anti-Bush e pró-BE. Hoje foi tornado marioneta e agora vi aqui que fizeram dele boneco da nintendo.

O que se seguirá? Derrota estrondosa nas eleições Presidenciais? Mantinha-se a coerência.

marioneta

Quando um espectáculo é conduzido sem que o actor principal (ou neste caso actor único, tratando-se por princípio de um monólogo) tome parte activa, esse é espectáculo é definitivamente de marionetas. Ou pelo menos assim nos surge.

De facto, ao menos que a idade inspiriasse o mínimo respeito que se impõe.

então afinal as Presidenciais são promovidas pelos partidos

e, em lugar de candidatos individuais, há candidatos patrocinados - em termos logísticos e financeiros - pelos partidos, e candidatos aos quais são proibidas referências e assistência e existência nas instalações e circunstâncias de um partido de que são ambos militantes?

Mau sinal. Este é um mau sinal do sentido democrático lá dos lados do Largo do Rato - um péssimo sinal. Porque se confunde um apoio pessoal do presidente do partido e Primeiro-Ministro a uma candidatura com o apoio institucional do partido a que aquele preside. O que precipita uma lógica ditatorial a gosto de Jorge Coelho de proibir a presença de Helena Roseta e dos demais apoiantes de Alegre nas reuniões da Comissão Política do PS - com o espantoso argumento de que aí se discutiriam estratégias eleitorais (partidárias?).

Pode ser que esta deturpação grosseira do sentido da actuação democrática e lealdade política reverta em favor de Alegre, à laia popular dos dizeres do feitiço e do feiticeiro e outros que tais que espero que se apliquem em absoluto no castigo que os fervorosos apoioantes do camarada que é fixo me merecem.

terça-feira, outubro 11, 2005

ainda absorto

na adição fervorosa ao arsenal farmacológico para os sintomas do tracto urinário inferior associados a Hiperplasia Benigna da Prótata.

segunda-feira, outubro 10, 2005

para sempre absorto

nos regimentos das engrenagens iatrogénicas, avanço sozinho no escritório para a noite que se prepara para receber as franjas já benígnas do Vince, impossibilitado de cuidar o rescaldo autárquico que se requeria.

Conto ter espaço em breve.

sábado, outubro 08, 2005

apanhando as últimas aparas

autárquicas importa ler com atenção este blog - pelo seu utilitarismo na análise global do fenómeno eleitoral. Sondagens são sempre sondagens - ninguém acredita nelas até prova em contrário. Além disso, a média que margens de erro nos traz poderá pecar por ser um instrumento estatístico grosseiro (embora na maior parte das vezes bastante verdadeiro, pelo mérito da universalidade da curva de Gauss). Mas não há dúvida que o estudo comparado fica assim manifestamente facilitado.

Veremos no padrão dos desvios do próximo domingo.

segunda-feira, outubro 03, 2005

qualidade de vida

num dia intenso, absorto nos regimentos das engrenagens iatrogénicas, que se volveu num sublime instante mutagénico do humor. Um morrer-do-sol espesso e doce, quente, envolvente. E um mergulho num lago feito espelho de petróleo do céu dos tempos, ainda por estrelar, na contrafacção benévola da realiade que nos tolha. Um ápice gélido que contraria o fervor palpitante das coordenadas vasculares que me torturam.

E fui feito novo.

sábado, outubro 01, 2005

e quase me esquecia de falar disto

Manuel Alegre é finalmente candidato à Presidência da República - o meu candidato. E já começa a fazer estragos.

não era isto que me esperava

Com felicidade, não era isto que me esperava. Barcelona recebeu-me com a viva magia do modernismo catalão, nos seus edifícios, nos seus espaços, nas suas gentes, no seu ar. Uma cidade que é assumidamente de todos. De tudo. Onde é quase imediato o sentimento de absorção, de assunção. Que é nosso. Que é nossa. A cidade que é um potente motor mascarado pela delicada ornamentação fantasiosa do imaginário de Gaudi e Domenech i Montaner, encaixada entre o mar que é já mediterrâneo, que é largo, onde à largura se espraia, Llobregar e Besòs que a irrigam, e os montes Collserola.

nota de regresso sem nunca ter partido

Já fiz nota de regresso com um comentário no último (e assumidamente já longínquo) post.


[Como acção preventiva decidi incluir a funcionalidade de protecção de spam comments. Peço desculpa pelo eventual desconforto. Incito-os todavia a não se inibirem de me oferecer o contento de participar no corpo de a cor das avestruzes modernas.]

quarta-feira, setembro 14, 2005

vale-nos a independência

Poderá à primeira impressão parecer perigoso ver-se nomeado para dirigir os destinos do Tribunal de Contas (cuja atribuição principal é precisamente a fiscalização das contas do Governo em exercício) um compincha solicalista dos quatro costados, reiteradamente ex-ministro e até esta data deputado na Assembleia da República na bancada do Partido Socialista.

Poderia parecer perigoso não pela possibilidade de conluio na sonegação de eventual matéria de contas públicas, porque a seriedade de todos afasta liminarmente esse raciocínio, mas pela dificuldade orgânica de um amigo fiscalizar a actividade de outro amigo.

Mas esqueçam todos os princípios éticos e, no limite, o bom senso. Porque, enfim, vale-nos a [promessa de] independência.

domingo, setembro 11, 2005

enfim as ideias (possíveis)

Depois de anunciados os compromissos de princípio, enfim as ideias. Possíveis.

"Um jardim em cada bairro!"
Manuel Maria Carrilho, Lx.Set.2005

[Ideia vanguardista. Estruturante. Perturbante. O que quer Carrilho de Lisboa. Está tudo dito.]

quinta-feira, setembro 08, 2005

será que é isto que me espera

em Barcelona, para a semana?

Segundo reportagem oferecida hoje no jornal espanhol El Pais, Que las calles del centro de Barcelona sufren un desgaste excesivo viene ocurriendo cada temporada de verano - que se inicia, en realidad, en primavera y se extiende hasta entrado el otoño - con la llegada de miles de turistas que la zona histórica de la capital catalana apenas puede absorber. Pero el fenómeno relativamente más reciente de la indigencia callejera, la violencia de grupos muy heterogéneos y, sobre todo, la proliferación de actitudes incívicas se ha acentuado ahora.
Muebles junto a contenedores, colchones tirados en las aceras, bolsas de basura que se amontonan junto a los contenedores y un fuerte olor a orines en determinados puntos de Ciutat Vella, pero también de otros distritos de la ciudad, han desbordado la paciencia de residentes y comerciantes.
El espectáculo de ver a indigentes durmiendo en bancos y plazas también se ha agravado este verano, en el que se ha incrementado la llegada de grupos de personas marginales -jóvenes procedentes de otras ciudades europeas- que viven prácticamente en la calle -acompañadas de perros- y duermen en las playas. Ese problema, junto con la mendicidad organizada y el incremento de la prostitución callejera, también se ha ido agravando en los últimos meses.


Ainda em Lisboa. Absorvido na maravilha revisitada trazida pelo livrinho de bolso da lonely planet. Quero acreditar que não.

quarta-feira, setembro 07, 2005

prova de que o Fado é a música popular - é Portugal




Caros amigos,

Quero que sejam os primeiros a saber : Vou gravar pela primeira vez um DVD e disco ao vivo em Portugal, dia 6 de Setembro no concerto que terá lugar nos jardins da Torre de Belém. É por esta razão que gostaria muito de vos ver nessa noite, não só porque é nestas alturas que mais precisamos da força dos nossos amigos, mas também porque estamos a preparar um concerto muito especial que por várias razões será difícil de repetir. É desta forma que vos convido a festejarem comigo a que será uma das noites mais importantes da minha vida. Não se preocupem com bilhetes porque a entrada é livre.

Beijos, Mariza


[Eu fui ver. Como foram largas centenas de pessoas. Numa prova de que o Fado é a música popular - é Portugal. Único]

segunda-feira, setembro 05, 2005

carrilho: o perfil

numa palavra: insolente

[quem assistiu hoje ao debate na SIC Notícias comungará certamente comigo no asco político que me entorpeceu a digestão]

quinta-feira, setembro 01, 2005

quase chorei também

Escreve Luís Osório na Causa Nossa, a propósito do lançamento da candidatura presidencial de Mario Soares:

"Teve algo de tocante assistir ao regresso do velho general e ao reencontro com a maioria dos seus lugares-tenente. Também eles mais velhos, aparentemente sem força para mais uma batalha, mas dizendo presente contra a lógica."

Confesso que quase chorei também.

Espanha carrega no acelerador

De acordo com a notícia veiculada pelo El Pais, a economia espanhola cresce a um ritmo de 3,4% - três vezes mais que a média da zona euro. A contribuir especialmente para este valor está o crescimento observado no sector dos equipamentos indutriais e telecomunicações - com um registo de 10,4%, que se vem sustentando há já um ano.

Mesmo em tempo de crise económica e quando o preço dos combustíveis atinge níveis obscenos, Espanha ultrapassa a maioria dos países europeus e carrega a fundo no acelerador económico.

Até quando Portugal permanecerá na box a escolher a composição dos pneus?

quarta-feira, agosto 31, 2005

fala de mim?

Disse Vital Moreira na Causa Nossa:

Desconsolo
Com a desistência -- embora em termos arrevesados -- da sua putativa candidatura presidencial, Manuel Alegre deixou desconsolada a direita, como se vê nos seus blogues mais representativos, onde granjeou uma data de súbitos e interesseiros "admiradores". Como era de esperar, prevaleceu o bom senso.


Estará Vital Moreira a referir-se a mim e ao meu a cor das avestruzes modernas? Agradeço a referência. Tratarei de retribuir em breve.



[Nota: já conheci significados mais bem sucediddos para "instinto de sobrevivência política", "apego desmesurado ao poder", "falta de coerência política", "não ligues ao que eu faço nem ao que eu digo porque ora faço o que não digo ora digo o que não faço ora finalmente faço o que disse que não faria", do que propriamente o "bom senso" que Vital Moreira defende. Opiniões.]

Soares é fixo

"Soares é fixo". Nuno Rogeiro, hoje na SIC Notícias.

cuidado não se afogue

"Hoje Soares terá o seu primeiro banho de multidão", Luís Osório - in Causa Nossa.

quem é que é autista?

Luis Osório, num comentário todo-sapiente, condena-se - no reverso da sua crítica à pretensa traição do discurso de Manuel Alegre ao seu passado. Quem é que é autista?

a culpa não é de Soares

mas daqueles [como Luís Osório] que não acham no seu tempo matéria espiritual que lhes acalme as angústias.

É triste. Patológico.

terça-feira, agosto 30, 2005

desilusão



Estou desiludido. Profundamente desiludido. O meu candidato, desde a primeira hora, cedeu hoje à romântica missão de não dividir o Partido - um Partido que se cumpre reiteradamente numa concorrida perfídia prova para a maior deslealdade. Hoje terminou a política de carácter: sucumbiu o último dos sonhadores.

Quem perde? A poesia.

hiato

Volvido o hiato acho-me de regresso a a cor das avestruzes modernas.

Obrigado a sophisticated lady e a Pedro Teorias pelos comentários que me deixaram aqui.

quinta-feira, agosto 18, 2005

meus senhores, aos vossos lugares: aceitam-se apostas

Finalmente começou, a sério, o espectáculo da campanha para os lugares de candidatos presidenciais lá para os lados do Largo do Rato. Porque se dizem os mais democratas entre os democratas, que seja esta campanha uma luta política feroz, ao género do circo romano.

Para já contam-se dois golpes, um para cada lado:
1. Mário Soares diz que umas eleições sem ele próprio seriam um passeio para Cavaco Silva.
2. Manuel Alegre reclama ser o candidato da esquerda melhor colocado para fazer frente a Cavaco Silva.

Por isso meus senhores, aos vossos lugares: aceitam-se apostas.

Por mim, tenho um favorito perfilado na arena: porque a poesia tem andado pelas ruas da amargura, esta podia ser a oportunidade publicitária de excelência.
E sempre nos poupavámos aos ralhetes viciados do eterno pai da pátria.

terça-feira, agosto 16, 2005

canal História fora de tempo

[publicado a 16.08.2005 mas escrito a 11.08.2005]

Hoje senti um poderoso arrepio matinal. Não pelo amedrontado clima estival. Não plena ténue humidade da manhã. Mas pela terrível antevisão de um regresso a um passado que se não pode, em absoluto, voltar a viver.

A propósito do flagelo dos incêndios e da incapacidade sucessiva dos Governos para lhes fazer face, ouvi esse todo-poderoso-onniscente-e-omnipotente-de-todas-as-causas, frágil nos argumentos mas terrível nas ressurgências, protestar contra a propriedade florestal privada, reclamando, naquela viva voz que o aproxima do bulhão poítico que ensurdece os tímpanos mais sensíveis, exigir a sua nacionalização urgente.


Que tenha sido esta uma leviana incorrência de um canal História fora de tempo.

quinta-feira, agosto 11, 2005

são falácias, senhor, são falácias

Provavelmente pressionado pela incómoda insurgência civil contra o Plano de Infraestruturas Prioritárias (compilada aqui por José Pacheco Pereira no que à blogesfera diz respeito), o Governo parece assumir mea culpa e prepara-se para encomendar (a posteriori) os ditos estudos que terão estado (à laia de um regresso ao futuro) na base da decisão ponderadíssima de investimento público.

Quem parece estar à margem de tudo isto (como de tudo o resto que a sua pasta ministerial contempla), é o Ministro da Obras Públicas, que segundo fonte próxima se terá mesmo irritado com os colegas de Governo, reclamando que a “Falta de informação sobre Ota e TGV é mentira descarada”. Ou pelo menos fê-lo em jeito involuntário de quem se não apercebe do regresso do boomerang.

De facto não se entende o problema levantado em torno desta questão. Não é que, de acordo com Mário Lino, "o novo aeroporto foi sujeito, em 1998-1999, a uma avaliação de impacto ambiental, que abrangeu previsões de tráfego, localizações alternativas, impactos económicos e sociais". Resta saber, nos seis anos e meio que entretanto já se passaram, quantas das previsões se confirmaram. E por isso qual é o ponto de partida actualizado ao tempo que hoje corre - ou seja: façam-se novos estudos que, no seu mínimo, corroborem os do Sr. Ministro.

Tudo isto é anedótico. E ainda há quem tenha a veleidade de protestar, no seu mau jeito veemente para manobrar este brinquedo periogoso sem marca CE que são os boomerangs opinativos, que tudo isto são falácias.

terça-feira, agosto 09, 2005

a revelação

A revelação chegou-me via Bomba Inteligente, de Carla Quevedo.

Your Brain is 66.67% Female, 33.33% Male

Your brain leans female
You think with your heart, not your head
Sweet and considerate, you are a giver
But you're tough enough not to let anyone take advantage of you!

What Gender Is Your Brain?

carrilho não sabe se quer ver a luz

Já se sabe que na vida, e sobretudo na política, não pode haver off-the-records. Tudo o que se diz é publicável. Porque tudo o que se diz é público. Mesmo que seja em fresca cavaqueira estival num restaurante à beira Tejo. Mesmo que seja com um jornalista.

Tudo isto me parece resumir-se à circunstância cómica de um forcado que se lança ao toiro e depois foge em recuo arrependido.

carrilho vê a luz (mas arrepende-se)

Este é um assunto que se resume às próprias palavras de MMC, segundo o próprio sempre «muito coerente»:

«Tenho sido sempre muito claro na minha posição de apoio ao Dr. Mário Soares e à sua candidatura a Presidente».

Importa reter esta nota de protesto, porque às vezes custa saber onde acaba a ferradura e começa o cravo.

carrilho vê a luz

Carrilho vê a luz (das estatísticas) e vem afirmar-se pouco entusiasmado com a possibilidade da candidatura presidencial de Mário Soares. Será este um golpe de marketing para a Câmara de Lisboa (pela pretensa assunção de clarividência) ou antes já uma colocação como via alternativa às hostes socialistas hoje instaladas.

Parece-me que se preparam já filosofias pós-socráticas.

um animal para a vida

De acordo com os dados publicados na Nature (vol 436, p 641) e tornados públicos pela New Scientist, terá finalmente ocorrido com sucesso a primeira clonagem de um cão, depois de três tentativas falhadas do investigador sul-coreano Woo Suk Hwang.

De fato, a produção do chamado "Snuppy" (Seoul National University puppy) não foi fácil. Dos 1095 ovos contendo DNA de um cão Afegão de 3 anos de idade que foram correspondentemente implantados, apenas 3 resultaram em processo de gravidez: um foi vítima de aborto espontâneo, outro morreu aos 22 dias devido a penumonia, vigando somente até à data um dos animais. Ver aqui a familia [completa] feliz.

Esta notícia, além dos créditos científicos imediatos (cujo sentido prático que justifique o investimento poderá ser de qualquer forma questionado), vem levantar uma questão decididamente mais importante. Porque este passo abre naturalmente expectativa e oportunidade de mercado para a clonagem comercial de cães - garantindo um animal para a vida.

sexta-feira, agosto 05, 2005

contra a letargia da silly season

Apesar do calor sufocante, e por causa dele, enquanto uns cumprem em gozo caçadas colonialistas (ainda que por estes tempos, feliz grado, apenas em ensejo) e deixam o país à sua mercê (que é afinal talvez o seu estado mais benévolo), e outros há que sacodem do capote a água que não caíu, há que se insurja contra esta letargia da silly season.

A ler: este voto de protesto e prémio de lucro brejeiro de Rita Barata Silvério, e, de Pacheco Pereira, este, este, este e este posts.

quarta-feira, agosto 03, 2005

sócrates: 2 vs. bom-senso: 0

Segundo consta aqui, Campos e Cunha (1º) e Santos Martins (2º) foram eliminados por se oporem aos projectos da OTA e do TGV.

Há coisas que nem uma maioria absoluta justifica. No mínimo passam por uma terrível falta de bom-senso, a somar-se a cada dia.

[quem os parará?]

terça-feira, agosto 02, 2005

parábola da lebre e da tartaruga

Esta história soa à parábola da lebre e da tartaruga. Ainda nem partiu e já chegou primeiro.

sexta-feira, julho 29, 2005

porque razão Portugal permanecerá no r/c do edifíco europeu

Um fim-de-semana no Norte, uma vontade inadiável de me estrear nesse badalado lar da música, que me fez acreditar que finalmente teriamos em território luso um espaço inteiramente [a tempo inteiro] dedicado à nobre arte que me contenta o aparelho concertado do martelo, bigorna e estribo.

Quanto maior a subida maior a queda, como maior é o fruste quando se sobreleva a ilusão: acho em programação de música clássica tão só dois concertos de espaço menor que a unidade horária, protagonizados pela Orquestra de Jovens da União Europeia; meritório, de facto, mas terrivelmente insuficiente. Abatido mas não vencido procuro o que me reserva a agenda de jazz - não existem eventos este mês. Como pode?, todo este mês?! Numa derradeira tentativa, num último gole de ar pelo fim-de-semana musical que tinha ensejado, procuro em "Todos" um qualquer concerto que me anime mais que jovens músicos europeus: nada, rigorosamente mais nada.

Quem lida com leis de mercado (que não são mais que a lógica razão do comportamento do consumo humano e onde tudo na vida, mais ou menos directamente, toma assento) sabe que a procura e a oferta são indissociáveis. Não havendo oferta não poderá nunca alimentar-se a procura. Mesmo em cultura. E é por essa razão que Portugal permanecerá no r/c do edifíco europeu - em tudo.

quarta-feira, julho 27, 2005

vê-se claramente visto

que há coisas que são ditas pelo estranho prazer de as dizer e não pelo sentido verdadeiro do que é dito.

Hoje, na repetição desta conversa de Carlos Vaz Marques [decididamente um dos melhores jornalistas da rádio] com Cruzeiro Seixas, ouvi o pintor e poeta surrealista dizer-se, a determinada altura, um assumido näif. Confissão de imediato refutada por uma terrível contra-resposta de gume de folha do aclarado jornalista: o que demonstra, já, um pouco menos de ingenuidade; porque ingénuo ou näif é aquele que não se dá conta de o ser, não é?

Vê-se claramente visto que há coisas que são ditas não pelo sentido verdadeiro do que é dito, mas antes por um estranho prazer de as dizer.

um dos melhores posts que li

Leitura obrigatória deste post de Rita Barata Silvério. Decididamente um dos melhores posts que li - pela argúcia, pela sagacidade, pela oferta da triste comicidade de tudo isto; que me enche na decisão adiada sem prazo de exigir dormir em camas separadas, pela impossibilidade de divórcio.

lições de Vital Moreira

Recomendo vivamente a leitura desta manifestação de protesto de Vital Moreira na Causa Nossa.

Mas mais que a dita colonização lisboeta nos "media", que vai alegadamente vulgarizando o modo de falar lisboeta por esse país fora, choca-me cada vez mais a aceitação social que se vai tendo relativamente às contra-ordenações graves ao código linguístico português. Tanto na oralidade como na escrita. Tanto no convívio privado como no relacionamento profissional. Porque como acontece com a Evolução, corremos o claro risco darwinista de vermos, por pressão selectiva, ameaçado de extinção o nosso tão querido Português.

segunda-feira, julho 25, 2005

alegre, mas como?

Soube-se há pouco no DN que a candidatura de Mário Soares estava a ser preparada nas caves socialistas há já um mês.

Um dia depois de se ter disponibilizado para assumir a responsabilidade de uma candidatura que teimava em não ter candidatos (ou quasi-candidatos) do Partido Socialista (tal como sucedeu nas eleições para Secretário-Geral, após a demissão de Ferro Rodrigues), Manuel Alegre vê, uma vez mais, os seus camaradas cumprirem em agradecimento o seu voluntarismo com uma indecente confrontação com o ridículo.

Será que Manuel Alegre voltará a entrar no Largo do Rato?

domingo, julho 24, 2005

anedótico

Não consigo encontrar nenhum outro comentário que descreva fielmente o que penso sobre a notícia do apoio do PS a uma eventual candidatura de Mário Soares a Presidente da República.

É a triste prova desprestigiante de que o cargo político máximo da República Portuguesa não é mais que um posto - mineral, imóvel, sem necessidade de acção nem de responsabilização. Um prémio de carreira.

É por esta assunção generalizada de que assim se dá provas que eu defendo uma revisão profunda da organização do Estado e da nossa democracia, que eleve (ou reveja) o papel do PR e que não permita veleidades com esta que vem noticiada no JN e de que já se falava nos corredores partidários.

Anedótico. Tristemente anedótico.

sábado, julho 23, 2005

equívocos da História

A história da História - ou seja, aquela que é contada pelos homens e não a que é feita pelos homens - é frequentemente alvo de diversos equívocos. Porque a história que é escrita raramente é rescrita quando mal escrita.

Disso é vítima agora Egas Moniz e o seu prémio Nobel recebido alegadamente em parabenização e reconhecimento pela técnica de lobotomia. Conta-se que existe uma campanha dos Estados Unidos contra o neurologista português, promovida pelas famílias de doentes sujeitos àquela técnica neurocirúrgica - as quais pedem à Academia Sueca que retire o galardão ao nosso médico.

Quem tem gosto pela História, em particular pela História das Ciências, sabe que esta técnica, que consistia em fazer uma incisão localizada em fibras nervosas cerebrais para tratamento da esquizofrenia e de outras afecções neurocomportamentais, foi galardoada como um prémio de consolação. De facto, Egas Moniz devia ter sido parabenizado antes com o Nobel pelos seus trabalhos na angiografia cerebral, os quais motivaram erradamente a entrega a investigadores amercianos do prémio que seria com justiça do investigador português.

Por esse motivo, e porque a Academia Sueca tem desde esse tempo uma dívida para com a comunidade científica lusa, os responsáveis pela entrega destes prestigiados prémios vieram já garantir que "não existe qualquer hipótese de retirar o prémio, uma vez que o reconhecimento internacional de Egas Moniz não se esgota na prática da Lobotomia".

Equívocos da História.

sexta-feira, julho 22, 2005

imagens vivas



Imagens vivas, uma vez por dia. Da autoria de Benjamim Fonseca e Silva.

quinta-feira, julho 21, 2005

o rigor vai manter-se

O novo ministro de Estado e das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, não entrega no Tribunal Constitucional (TC) as declarações de rendimento e património, a que está obrigado, desde 2000
(Diário Digital, citando a Renascença).

Segundo o Eng. José Sócrates o rigor nas finanças vai manter-se.

demissões há muitas

Um demissão, uma nomeação e duplo despedimento da CMVM e da FEP em menos de 18 horas, descontando umas humanas 6 horas de sono, é um record demasiado inverosímil para que se acredite na versão até esta hora vigente.

Estes contornos configuram uma indismentível situação de demissão promovida pelo próprio Primeiro-Ministro. Uma demissão devidamente calculada, preparada e acautelada.

quarta-feira, julho 20, 2005

e agora quem regula?

Campos e Cunha foi, desde o dia que se seguiu à constituição do Governo, o principal motor das medidas de contenção e de reestruturação financeira do Estado. Nesse contexto foi a primeira voz incómoda ao programa de investimentos decidido pelo ministro Manuel Pinho, defendendo a priorização da contenção e da reestruturação face a investimentos de valor acrescentado assumidamente discutíveis.

E agora quem regula?

elencos diferentes, histórias diferentes

Um Ministro das Finanças demitir-se é um sinal manifesto de ruptura - sobretudo na circunstância imediata à apresentação de um orçamento rectificativo e, mais importante, seguindo-se à elaboração de um programa de reestruturação financeira do Estado: assumida pedra de toque do actual governo.

Quando esse ministro, além da pasta das finanças, assume responsabilidades de Estado, o rombo é indismentivelmente maior, configurando-se sem grande dificuldade de relevância crítica (i.e. comprometendo a sua viabilidade).

Bem sei que a maioria absoluta foi conquistada pelo PS e pelo Eng. José Sócrates e não por nenhum dos actuais ministros, mas este edifício do Governo perde hoje a sua estrutura basilar.
Apesar de guiões idênticos, os elencos são, aos olhos vendados daquele(s) a quem cumpre a arbitragem política da República, diferentes, e por isso as histórias também serão diferentes.

ruptura nas finanças

Campos e Cunha demite-se.