sexta-feira, maio 26, 2006

mais que uma questão de propriedade

Hoje, cumprindo um caminho que o Eng. Sócrates foi mostrando ser inevitável, o governo anunciou que cessará o termo da lei que atribui aos farmacêuticos a exclusividade da propriedade das farmácias.

Sendo eu farmacêutico, seria talvez esperado que me insurgisse contra a medida ou que, no limite, não concordasse com a mesma. Não é assim. E o argumento é simples e claro. A prática farmacêutica, na acessão inscrita legalmente, inclui não a gestão de um estabelecimento de dispensa ao público como actividade primordial, mas antes a prestação de serviços e dispensa de medicamentos à população, assegurando a sua utilização racional - com qualidade e segurança. Esta última deve ser indiscutivelmente - e reconhecida como tal - a trave mestra da actividade farmacêutica em Farmácia Comunitária.

Embora em relação a esta questão não tenha qualquer dúvida que a esmagadora maioria dos farmacêuticos assume o serviço ao utente como o próposito basilar da sua actividade, é sabido que a miúde a profissão farmacêutica foi acusada de colocar os interesses particulares, quando proprietários, à frente dos interesses dos utentes das suas farmácias. Esta acusação - sendo maioritariamente infundada - foi contaminando a relação entre utentes e farmacêuticos, com claro prejuízo para os primeiros.

Por isso esta medida, que isenta os farmacêuticos da exclusividade sobre a propriedade da farmácia, libertar-nos-á de um fardo que, em termos globais, tem prejudicado a imagem dos farmacêuticos junto da população e, por esse motivo, o sucesso e eficácia da mensagem a passar aos doentes - para a mais correcta utilização dos medicamentos.

sexta-feira, maio 19, 2006

manuel maria carrilho


é seguramente uma das pessoas mais azedas, enfadadas, snobs, enervantes, implicativas, agressivas, intolerantes, psicóticas, inábeis que conheço.


Tenho a certeza que o Mário Crespo concordará comigo. O seu controlo é prova inabalável das suas singulares qualidades jornalísticas. Eu tê-lo-ia sujeitado certamente ao mais vil vernáculo injuriante da língua portuguesa. Sem apelo nem agravo.

quarta-feira, maio 17, 2006

é essencial parar

e encontrar oportunidade para a reflexão sobre o que nos move, para que não corramos o risco de nos vermos, tarde, em movimento cinético perdido de sentido, tolhado de objectivos fundamentais, genealógicos, apenas porque é necessário que corramos - sempre; é imprescindível que descubramos o nosso espaço mental essencial para que mantenhamos a cabeça acima do nevoeiro entorpecedor que nos marca o ritmo artificial de metrónomo imposto.

E é sobretudo preciso clarividência e serenidade para perceber isso.

segunda-feira, maio 15, 2006

ainda não disse nada

sobre o último congresso do CDS. Segui-o o mais próximo que a cobertura televisiva me permitiu e com a insenção emocional que o timbre tépido do sol alentejano de Troia me proporcionou. Para mim a conclusão do congresso é imediata e absolutamente clara: o partido está num beco de saída complicada - está dividido, dividido ao meio; está formalmente dividido, assumidamente rupturado.
E por isso é essencial ao CDS que se aproveite a oportunidade do doce passeio do partido socialista para reafirmar a política do próprio CDS. Tal como numa empresa é crucial a definição e redefinição de uma política, da qual se emanem objectivos que componham uma estratégia e da qual resultem valores que suportem essa estratégia, é decisivo para o CDS que se cumpra este exacto exercício: é imprescindível que se redefina a política do partido (no seu sentido institucional) e que a partir dela se estabeleçam os objectivos estratégicos da actividades políticas do CDS para os próximos curto e médio prazos.
Poder-se-ia pensar que este congresso poderia ter servido (ou que serviu) para isso. Não foi o caso. Este congresso apenas cumpriu o destino traçado por muitos: confirmar a ruptura conhecida, nada mais.
Esta redefinição far-se-á certamente durante os próximos meses: se não em congresso em colunas de jornais, em paineis televisivos, em blogs, etc. E teremos certamente um novo congresso ainda antes de se alinhavarem as novas eleições legislativas. Talvez para o ano que vem. Assim veremos.

sexta-feira, maio 12, 2006

precaridades da lusofonia (II)

Tomo um taxi de Paris para Maurepas e dou por mim sentado atrás de um motorista que me diz ser angolano, com família próxima em Portugal - em Lisboa. Mas di-me-lo num francês tão arranhado que sou forçado a pedir-lhe que me fale antes em inglês.

precaridades da lusofonia (I)

Tomo um voo para Paris e dou por mim sentado ao lado de um casal - farto, luminosamente rosado, excessivamente adornado por metal de luz de ouro - que entre si fala num martirizado português de marquise, atacado em golpe fatal quando em resposta à questão solícita da hospedeira aquele sofrido português se transforma num triste dialecto metamórfico: Jus de pomme.

sexta-feira, maio 05, 2006

hiato

do Lat. hiatu, acção de abrir a boca:
1. Encontro de duas vogais sonoras, uma no fim de uma palavra, e a outra no princípio da palavra seguinte, dando mau som e obrigando a abrir muito a boca; orifício; fenda; intervalo;
2. Falha; lacuna.

Abro a boca em mudo som pela lacuna que o meu tempo esquivo - volátil, volúvel, que se esvai, esvanece - me impõe, numa moribundez e estupor de escrita d'a cor das avestruzes modernas.