por um voto se ganha, por um voto quase se ganha - e vice versa
A Itália é um país singular, em muitas coisas; a política é sem dúvida uma delas. E a despeito de outros comentários porventura mais apropriados nesta circunstância, acho que a prestação recente da política italiana (sobretudo pela mão hilariante de Berlusconi) tem, se não outros, um grande crédito: chamou a si a sociedade civil - conforme constataram os níveis de participação eleitoral e os níveis de audiência e fervilhação que o escrutínio em fotofinish proporcionou.
E a singularidade (que não é neste caso de nenhuma rapariga loura) presta-se também à risível cena de termos de um lado um dos candidatos que reclama uma “bela vitória, comovente e incontestável” – mesmo sendo por umas escassas migalhas ainda não confirmadas em livro de lei; e termos outro dos candidatos que se recusa a reconhecer a vitória do adversário e promete a formação de uma grande coligação para o Governo.
Bem sei que não tem chancela da Endemol, mas talvez por isso, vai valer a pena acompanhar a par e passo este novo programa em formato ainda mais real.
Bem sei que é condição da vida o verso e o reverso do poema profissional, não raras vezes sem rima ou com frases cuja similaridade nem tão pouco garante a métrica. Mas nesta última semana vivi num desses sonetos sem rima, estranho aos versos que se impunham como novos, à sua estrutura e ao ritmo; porque tudo é novo, tudo se exibe do avesso.
acho em delícia um artigo de opinião de Nuno Henrique Luz na revista do Independente de 19.03.1999, que leva o título (feito novamente actual e lançado em televisão por Nuno Rogeiro nas últimas presidenciais): "Soares é fixo".
Dizia NHL, em 1999, que "uma pessoa vê Soares na televisão, de chapéu na mão, a tentar fazer-se entender por Kassinger e Kofi Annan e Federico Mayor, e pensa: aos mitos da política há sobretudo que deixá-los quietos, para que fermentem e amplifiquem o seu esplendor, como os queijos".
Gosto sobretudo da designação mito, que coloca na esfera da ficção e da fantasia o real impacto do Dr. Mário Soares em Portugal. Já acho (ou pelos menos cumpre-me dizê-lo) de gosto discutível a comparação muito plástica entre a imobilização a que Mário Soares se deveria prestar (e ter prestado) e o processo de fermentação do queijo - ainda que se alegue ser para servir o seu esplendor.
Em todo o caso, este recorte poderia ser não de há 7 anos mas de há dois meses. Prova de que a Terra, pelo menos na paralaxe temporal errónea que tolha o nosso país, gira muito lentamente.