quinta-feira, abril 28, 2005

sentença de morte

De acordo com o noticiado pela TSF, o governo prepara-se para anunciar uma medida extraordinária para contornar a questão da redução do primeiro ciclo de estudos imposta pelas recomendações de Bolonha.

Para histerizar o gáudio revoltado das gentes rubras que visceralmente se opõem - na abençoada ignorância de carneiros mal mortos - à diminuição proporcional do tempo de financiamento público do ensino superior, o Sr. Ministro Mariano Gago deverá apresentar como solução amenizadora das raivas estudantis uma extenssão daquele financiamento aos cursos de mestrado.

Admitindo que para a marioria dos cursos a diminuição do tempo relativo ao primeiro ciclo corresponda exactamente ao tempo dispensado em cursos de mestrado, esta medida parace ser profundamente justa - cumprindo a excelência do Estado na obediência ao princípio da tendencial gratuiticidade do ensino inscrito na Constituição Portuguesa.

O que aquelas gentes desconhecem, é que a confirmar-se esta medida, o governo se prepara para assinar a sentença de morte do ensino superior público. Não que os custos associados vão crescer - pela lógica nacional das coisas, os conteúdos, a forma e a estrutura (e portanto os custos) manter-se-ão precisamente os mesmos depois da adaptação do sistema às recomendações de Bolonha; a única diferença é que no tempo em que antes se cumpria uma licenciatura se poderá cumprir em breve uma licenciatura e um mestrado: as vantagens são claras e estonteantemente incomensuráveis. A condenação a que esta medida vota a viabilidade do ensino público - ou pelo menos a qualidade que se lhe exige - passa pela perda de receitas que as insituições obtinham com os cursos de mestrado - de acordo com o modelo vigente.

A confirmar-se, esta medida vem agravar a injustiça imposta pelo modelo da gratuiticidade do ensino superior público, mas vem sobretudo agravar de morte a sentença imposta há muito ao ensino superior público. Este modelo de financiamento é claramente um beco sem saída - e hoje cumprir-se-á o choque frontal com o muro constritor e obsoleto do sistema "prec"niano insistentemente mantido.

Triste País que nunca mais acorda.