domingo, fevereiro 13, 2005

disparate absoluto

Não sendo este um assunto de todo inédito na esfera de discussão que tem acompanhado esta campanha eleitoral, merece-me menção (pela inacreditável dimensão que tomou) o decreto absoluto lançado a Portugal para que conceda ao Eng. Sócrates uma maioria parlamentar absoluta. Se o repto lançado repetidamente desde os primórdios da sua precoce vida de candidato a primeiro-ministro parecia, inicialmente, um manifesto de necessidade de segurança política, de estabilidade parlamentar, de legitimação popular, hoje configura decididamente um manto diáfano que encobre uma terrível ausência de conteúdo, de estratégia, de convicção, servindo como argumento totalitário pelo temor da discussão.

De modo reflexo, à laia da história que torna sempre o feitiço contra o feiticeiro, este argumento tem acabado por revelar ser curiosamente o contrário do que de boca cheia se apregoa. Porque a doentia repetição tantas vezes repetida em repetidas ocasiões - seja em comícios, jantares, campanha de rua - de que o propósito da sua exigência serviria apenas para garantir a estabilidade governativa e não seria nunca um instrumento de abuso de poder, de desrespeito pela lógica democrática do nosso sistema parlamentar, acaba por revelar-se exactamente uma tentativa ignóbil de assegurar o poder pelo poder - contra o basilar princípio da regulação da acção do Governo pela Assembleia da República e assim garantir que a despeito da ausência total de estratégia, de capacidade e de vocação, estas eleições permitiriam ao PS gozar de mais uma legislatura de vacas gordas para si próprios.

Porque o Estado nunca há-de falir. Veremos até quando.