segunda-feira, janeiro 24, 2005

revelação

Quem na passada 5ªfeira teve oportunidade de assistir ao debate promovido pela SIC Notícias entre o líder do CDS-PP e o fundador/ideólogo/líder/pastor do diafinizante Bloco de Esquerda, pôde presenciar - como foi infelizmente o meu caso - a revelação do que é verdadeiramente a substância do partido que se diz representar a esquerda "moderna" - esse epíteto impossível que junta o sol e a lua, a água e o fogo, o quente e o frio: porque se é de esquerda não é moderno.

Na discussão de um tema supra-político, supra-teórico, supra-ideologista, supra-partidário, que emerge somente de uma consciência pessoal, moral, cultural e formativa que a todos dá razão pela simples circunstância de não haver razão possível num tema não racionalizável, vi o pobre sujeito quasi-homem erguer aquele dedo mais-que-azul-mais-que-hipócrita e proibir ao seu interlocutor qualquer referência ao valor da Vida, acusando-o de não ter direito por nunca ter gerado essa "vida" que se discute como quem discute SCUTS, impostos e função pública. Como se o direito universal à discussão sobre o universal valor da Vida se esgotasse nesse princípio inconcebível de apenas os pais poderem valorar aquele que é o valor basilar de Tudo o que temos. Nesta hipótese, apenas metade da Humanidade poderia opinar sobre o assunto, porque na essência, no acto, no esforço, na paixão, só a mulher gera verdadeiramente a Vida.

Mas o mais grave deste acesso não contido foi a revelação da verdadeira natureza daquela gente. Porque disfarçados no manto curto de tolerantes moralistas, senhores doutores proprietários da verdade (que julgam verdadeira e apenas própria), se esconde a mais terrível das esquerdas - a esquerda que segue na margem mais à esquerda da via política, a esquerda violenta, a esquerda intolerante, a esquerda autoritária, autocrata, totalitária, resquisiosa do pior da poeira soviética que ainda paira passada a caravana da História; uma esquerda tacanha, constritora das liberdades e das pessoas, que a jeito maoista se acha proprietária exclusiva da faculdade do pensamento e da razão, da cultura e da liberdade. Uma esquerda que de resto assume no seu título a força opressora de bloqueio, à leia de um bloco soviético que fez apagar do rumo sincronizado da história metade da Europa.

Confesso que pior que o calafrio que senti com esta revelação, foi a digestão interrompida que se me seguiu: por considerar a (não tão magra e talvez certa) hipótese de ver esta gentalha coligada com o partido a quem apenas a sorte ditou ter que pensar poder vir a ser governo. O risco que corremos de ver aquele dedo todo-sapiente, todo-poderoso, torto pelas artroses dos valores sonegados (ainda que disfarçadas sob a sua jovial etiqueta "moderna"), achar-se enfim poder político além-moral, faz-me temer o frio dos calaboços de uma Sibéria que rejeito, ainda que em metáfora.

NF.



3 Comments:

At 1:10 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Grande Nuno,

até que enfim que te assumiste na Blogosfera!
Desejo-te o maior sucesso e desde já te dou os parabéns por este post, eu sinto o mesmo.

Aquele Abraço

Pedroso

 
At 11:31 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Brilhante, como sempre! Sem mais comentários, está tudo dito e faço minhas as tuas palavras (é por estas e por outras que se não me casasse contigo ficava solteira para o resto da vida)!

MS

 
At 5:04 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Muitos parabéns pelo teu blog! Espero que continues a partilhar com os colegas e com o resto do mundo esta tua faceta tão interessante.
Beijinhos, Rita

 

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