quarta-feira, março 16, 2005

manifesto anti-júdice

"José Júdice é jornalista e escrevre regularmente no METRO". Assim se remata, em nota de roda-pé, a triste crónica publicada na edição de hoje do jornal gratuito METRO - em jeito de justificação achada necessária de uma credibilidade confrangedoramente perdida nas primeiras linhas do arroto literário publicado com a designação "Aspirina para o povo".

Arrancando com alusões grotescas de uma educação inacreditavelmente medícore, este sujeito, justaposto ao epíteto dito credibilizador de jornalista regular, refere-se às tomadas de posição - únicas - da Ordem dos Farmacêuticos e da ANF sobre o assunto febrilmente empolado nos últimos dias, como "guinchos de preocupação". Assumindo a franca possibilidade da dificuldade de percepção da significância de tal expressão se poder fundar numa pobreza lexical, confesso não entender o alcance desta figura sem estilo; porque não me ocorre nenhuma manifestação de preocupação que passe pela emissão dos ditos guinchos. Mais, afianço-lhe, com a maior humildade, que talvez os guinchos a que se refira sejam antes daqueles que julgam poder vir a beneficiar com a execução da medida prometida, à laia de hienas enebriadas com pavloviano cheiro fétido.

Não contente com o despropósito escrito no jornal de acesso universal, esse fulanito vulgar - de apelido atestante de um capacidade de julgamento que visivelmente não tem - assegura que a contestação farmacêutica assenta numa "hipocrisia dos interesses corporativos mascarada de preocupação com o bem comum sempre que lhes mexem no bolso, que é onde dói mais". Desconhece José que a profissão Farmacêutica, ao contrário do que a jornalista reincidentemente prova, deve cumprimento rigoroso a normas de conduta e deontologia que reiteram o juramento feito pelo bem comum, pela saúde e por uma melhor qualidade de vida. Mais, essa dor que tanto releva tem o mísero peso de 5,6% do volume global de vendas; se esta dor se sentísse, não seria seguramente preciso mais que um bom banho e um sono retemperadora para a apagar.

Mas no meio de tanta grosseira e barbaridade, houve pelo menos um aspecto importante focado pelo brilho literário de Júdice. Ao comparar um bar ou discoteca a uma Farmácia, tendo em conta a ingestão abusiva e não controlada de bebidas alcoólicas responsáveis, segundo o autor, por mais mortes do que a automedicação, vem defender a necessidade de uma revisão urgente da legislação aplicável ao consumo de bebidas alcoólicas - que se tem tornado manifestamente um problema de saúde pública.

Para terminar, o que custa aos farmacêuticos não é que haja muita coisa que passe com uma aspirina e um copo de leite morno ao deitar. O que custa é que exista espaço público de opinião para a imbecilidade, para a ingorância e para a preversidade. Porque o que está aqui em causa - em absoluto - é uma discussão sobre a valência técnica imprescindível do farmacêutico como especialista inegável do medicamento e não um transvio sobre o putativo impacto económico - o qual, já se viu, corresponder a uns insignificantes 5,6%.

Mérito ao METRO pela gratuicidade da sua publicação. Mas o mesmo não é válido relativamente à gratuicidade das agressões vis e infundadas a que deu guarida de destaque nesta última edição.