segunda-feira, outubro 13, 2008

o primeiro amanhecer



Morning has broken, like the first morning

domingo, outubro 12, 2008

hiato (2)

escrevia eu a 5 de Maio de 2006 que:

"do Lat. hiatu, acção de abrir a boca:
1. Encontro de duas vogais sonoras, uma no fim de uma palavra, e a outra no princípio da palavra seguinte, dando mau som e obrigando a abrir muito a boca; orifício; fenda; intervalo;
2. Falha; lacuna.

Abro a boca em mudo som pela lacuna que o meu tempo esquivo - volátil, volúvel, que se esvai, esvanece - me impõe, numa moribundez e estupor de escrita d'a cor das avestruzes modernas."

Mas o que me bloqueou a intenção da escrita, sei-o hoje, não foi esse tempo vaporoso que me fugiu sempre, à laia de uma locomotiva sem misericórdia que se afasta da plataforma do momento presente no exacto instante em que julgo alcançá-la; não, não foi a aquela volubilidade que acusei impor-me mudicidade, moribundez e estupor; não, não foi o peso do chumbo profissional que arrastei acorentado desde a última vogal sonora aqui escrita até agora em que volto a escrever uma vogal que quero interiamente sonora, gritante, dilacerante. Foi antes a ausência de espaço no outro eu que escreve quando este se elapsa e relapsa da vívida textura do tecido presente. Esse agora que o meu incógnito alterego requeria, sem que eu soubesse, na externa face da moeda dupla que nos faz para que se exponha à luz pituitária da escrita essa face interna totalitária e egoísta.

Sei-o agora graças ao Miguel Esteves Cardoso e à sua explicação de Português sobre o verbo irregularíssimo escrever. Sei-o agora, bem, que não se ouviu outra vogal n'as avestruzues modernas porque a minha face externa se tem achado tão cheia de tudo o que resoa, retine e reluz e nos prende à escrava textura quotidiana.

Mudei de vida. Esta é a segunda vogal sonora.