mais que uma questão de propriedade
Hoje, cumprindo um caminho que o Eng. Sócrates foi mostrando ser inevitável, o governo anunciou que cessará o termo da lei que atribui aos farmacêuticos a exclusividade da propriedade das farmácias.
Sendo eu farmacêutico, seria talvez esperado que me insurgisse contra a medida ou que, no limite, não concordasse com a mesma. Não é assim. E o argumento é simples e claro. A prática farmacêutica, na acessão inscrita legalmente, inclui não a gestão de um estabelecimento de dispensa ao público como actividade primordial, mas antes a prestação de serviços e dispensa de medicamentos à população, assegurando a sua utilização racional - com qualidade e segurança. Esta última deve ser indiscutivelmente - e reconhecida como tal - a trave mestra da actividade farmacêutica em Farmácia Comunitária.
Embora em relação a esta questão não tenha qualquer dúvida que a esmagadora maioria dos farmacêuticos assume o serviço ao utente como o próposito basilar da sua actividade, é sabido que a miúde a profissão farmacêutica foi acusada de colocar os interesses particulares, quando proprietários, à frente dos interesses dos utentes das suas farmácias. Esta acusação - sendo maioritariamente infundada - foi contaminando a relação entre utentes e farmacêuticos, com claro prejuízo para os primeiros.
Por isso esta medida, que isenta os farmacêuticos da exclusividade sobre a propriedade da farmácia, libertar-nos-á de um fardo que, em termos globais, tem prejudicado a imagem dos farmacêuticos junto da população e, por esse motivo, o sucesso e eficácia da mensagem a passar aos doentes - para a mais correcta utilização dos medicamentos.