sexta-feira, abril 29, 2005

erro de paralaxe de inanarrável demagogia

Um dos torpedos argumentativos disparados contra a prestação do corpo autárquico do PSD liderado por Pedro Santana Lopes é a questão da publicidade de rua às acções do executivo camarário. Defendem os críticos que, por não interessar minimamente aos munícipes ter conhecimento sobre os projectos desenvolvidos e em desenvolvimento na sua cidade, o capital gasto na comunicação e informação da CML é prolixo.

Mas pior que gastar dinheiro a dizer o que se faz e o que se fez é sem dúvida atolhar a cidade com publicidade a dizer que se começou a pensar o que se poderá vir a fazer. Porque esse é um dever mínimo de quem se propõe liderar o quer que seja - de domínio público ou privado: pensar pelo menos em fazer. Mas isso não é preciso anunciar - é implicitamente entendido - e muito menos anunciá-lo da forma vergonhosamente despesista como fez o PS.

Tudo na política é uma questão prespectiva. Mas este é de facto um dos maiores erros de paralaxe de inanarrável demagogia.

quinta-feira, abril 28, 2005

cartoons revolucionários (cont.)



18-5-1974, Ferraz, in Os Ridículos, n. 187 , p. 5

cartoons revolucionários



11-5-1974, Autor desconhecido, in Os Ridículos, n. 185, p. centrais

instantes revolucionários



Centro de Documentação 25 de Abril © 1996Suporte: cd25a@ci.uc.ptwww.uc.pt/cd25a

sentença de morte

De acordo com o noticiado pela TSF, o governo prepara-se para anunciar uma medida extraordinária para contornar a questão da redução do primeiro ciclo de estudos imposta pelas recomendações de Bolonha.

Para histerizar o gáudio revoltado das gentes rubras que visceralmente se opõem - na abençoada ignorância de carneiros mal mortos - à diminuição proporcional do tempo de financiamento público do ensino superior, o Sr. Ministro Mariano Gago deverá apresentar como solução amenizadora das raivas estudantis uma extenssão daquele financiamento aos cursos de mestrado.

Admitindo que para a marioria dos cursos a diminuição do tempo relativo ao primeiro ciclo corresponda exactamente ao tempo dispensado em cursos de mestrado, esta medida parace ser profundamente justa - cumprindo a excelência do Estado na obediência ao princípio da tendencial gratuiticidade do ensino inscrito na Constituição Portuguesa.

O que aquelas gentes desconhecem, é que a confirmar-se esta medida, o governo se prepara para assinar a sentença de morte do ensino superior público. Não que os custos associados vão crescer - pela lógica nacional das coisas, os conteúdos, a forma e a estrutura (e portanto os custos) manter-se-ão precisamente os mesmos depois da adaptação do sistema às recomendações de Bolonha; a única diferença é que no tempo em que antes se cumpria uma licenciatura se poderá cumprir em breve uma licenciatura e um mestrado: as vantagens são claras e estonteantemente incomensuráveis. A condenação a que esta medida vota a viabilidade do ensino público - ou pelo menos a qualidade que se lhe exige - passa pela perda de receitas que as insituições obtinham com os cursos de mestrado - de acordo com o modelo vigente.

A confirmar-se, esta medida vem agravar a injustiça imposta pelo modelo da gratuiticidade do ensino superior público, mas vem sobretudo agravar de morte a sentença imposta há muito ao ensino superior público. Este modelo de financiamento é claramente um beco sem saída - e hoje cumprir-se-á o choque frontal com o muro constritor e obsoleto do sistema "prec"niano insistentemente mantido.

Triste País que nunca mais acorda.

segunda-feira, abril 25, 2005

maravilha equívoca

a divina comédia de campos

Soube-se agora que o inaudito projecto de lei do governo para oferecer aos barões de comércio superficial de grandes dimensões a partilha da venda dos medicamentos achados de venda livre terá uma preciosa medida de precaução e segurança: a interdição da venda a menores de 16 anos. Adivinham-se já certamente epidósios de sórdida comicidade:

Sujeito aparentemente menor de 16: Bom dia, queria uma aspirina mastigável, uma aspirina C, uma migraspirina e uma aspirina para adultos que a infantil sabe a pouco, uma coisa qualquer para o estômago que o meu pai sofre muito, uns comprimidos para a minha mãe que é muito presa dos intestinos, umas vitaminas que ando fraco e uma coisa para a ressaca, e um cena para a minha irmã emagrecer.
Fulano, beltrano ou cicrano indistinto com a devida supervisão por videoconferência por um ajudante técnico de férias no Dubai: Pois, sim, sim. É tudo?
SAM16A: Espere... Acho que sim. Não, esqueci-me: quero também soda para os dentes para o meu pai não descobrir que eu fumo. É soda que se usa não é? É que é um amigo meu que põe disso e que diz que resulta e que o velho não topa nada. É isso não é?
FBCICDSPVPATFD: Pois sim, sim. É possível. Como disse: soda? Eu quero ver mas é o bilhetinho.
SAM16A: Qual bilhetinho?
FBCICDSPVPATFD: Bilhetinho de identidade. Queres levar isso tudo, e podes levar muito mais - tudo aquilo que quiseres sem controlo nem satisfação, mas só se tiveres mais de 16 anos.
SAM16A: E tenho. Fiz 16 já no mês passado e tudo. Esqueci-me foi do BI nas outras calças que ontem saí e deixei no chão do quarto.
FBCICDSPVPATFD: Então paciência. Não posso fazer nada. Sem cartão não entra... pedrão!, não compras.

De facto era esta a medida estruturante que faltava à área do medicamento. Louvado seja o populista partido socialista, o Eng. Sócrates sem inscrição na ordem dos engenheiros que por isso de engenheiro não tem nada e o acusado Campos que malograda a falta de jeito para outras coisas (como ser ministro da saúde) salva-se-lhe pelo menos o reconhecido mérito criativo de nos oferecer esta divina comédia!

domingo, abril 24, 2005

aniversário: primeiro trimestre

Foi há já 3 meses que o a cor das avestruzes modernas tomou coragem para se ver inaugurado.

Um agradecimento especial a todos os que o foram lendo e sobretudo deram a honra de lhe deixar generosos comentários.

terça-feira, abril 19, 2005

run karnazes, run!



("Dostoievski estava certo - «o sofrimento é a única fonte de consciência»"; in Ultramarathon Man: Confessions of an All-Knight Runner)

Um dia começou a correr. A correr muito. A correr mais a cada vez. Tornou-se primeiro um prazer, depois um vício: hoje é uma obsessão.

Uma noite, há 12 anos, Dean Karnazes decidiu calçar os ténis e pôr-se a correr. Sem propóstio e sem destino: parou 45 Km e 7 horas depois e achou-se mais cheio da força que a vida yuppie lhe vetava. Decidiu que nunca mais pararia de correr.
Depois maratona inicial de 160,9 Km foi correndo, de maratona em maratona, até à calvariosa ultramaratona Badwater de 230 km - que tem início abaixo do nível do mar e termina a 8 mil pés de altitute - em pleno Verão no estiolado deserto americano.

Karnazes corre todas as noites mais de 100 km, durante os quais ditou a maior parte do seu livro Ultramarathon Man: Confessions of an All-Knight Runner para o gravador de bolso que sempre o acompanha nas tiradas introspectivas nocturnas.

O presente recorde é de 421,648,13 metros em 75 horas seguidas. O próximo objectivo é correr 300 milhas (482,7 Km).

domingo, abril 17, 2005

ensaio de lucidez

Tomo a liberdade de partilhar o ensaio de lucidez que nos é oferecido por Mário Beja Santos:

"Tem o nariz entupido? Dói-lhe o estômago? Vá ao supermercado!

Tem mesmo o nariz estupido? Não sofre de rinite, sinusite ou alergia? Em breve vai ter liberdade de escolha, quando for ao hipermercado. Ali, ao seu dispor nas prateleiras, entre dezenas de marcas, você vai poder escolher entre Vibrocil, Neo-sinefrina, Narizina, Nasex, mas também Antigrippine, mas também Sinerbe ou Constipal. Você vai escolher, ouviu?

Entre gotas para aplicar no nariz e os comprimidos, o que é que prefere? É evidente que se deve preocupar com os efeitos secundários, o seu nariz entupido até pode resultar do uso de alguns medicamentos, mas o actual Governo deu-lhe o empoderamento, isto é você vai ter poder de escolher e escolher em segurança. É simples. Para escolher entre comprimidos e as gotas é só preciso saber que os comprimidos não devem ser tomados por hipertensos, pessoas com má circulação, doentes cardíacos, entre outros. As gotas devem ser usadas por poucos dias e com precaução, para que não sejam prejudiciais. Há ainda a considerar nos comprimidos as outras substâncias que eles possuem e que não actuam neste sintoma. Ah, cuidado: comprimidos com anti-alérgicos não devem ser tomados por pessoas que conduzem, não se podem tomar bebidas alcoólicas pelo risco de sonolência aumentada. Ah, outro cuidado: também são contra-indicados em doentes com hipertrofia da próstata e com glaucoma.

Vê como é simples? No caso de uma azia ou dor de estômago, você também vai ver que a escolha é simples. Sabe-se que o cancro de estômago é muito comum em Portugal e porque os sintomas de azia ou dor podem ser os primeiros a aparecer, recomenda-se que tome estes medicamentos por pouco tempo, sem vigilância. A escolha vai ser ampla, acredite, alguns deles até aparecem na televisão. Você não ouviu falar em AlkaSeltzer, Rennie Digestif, Kompensan, Pepsamar ou Leite de Magnésia Philips? A escolha não é difícil. Atenção aos outros medicamentos que anda a tomar, pode haver interacções bem complicadas. Há os que provocam prisão de ventre mais ou menos grave, outros provocam diarreias; alguns não podem ser tomados por doentes que necessitam de reduzir o sal, como hipertensos, doentes cardíacos, diabéticos, doentes renais e do fígado, por exemnplo; muitos deles não podem ser tomados por pessoas com doenças dos rins, como os insuficientes renais ou os idosos. Ah, a tenção: a maioria destes medicamentes, quando tomados por pessoas sujeitas a outros medicamentos, interferem com a sua absorção e reduzem a acção dos outros medicamentos, como sejam antibióticos, anti-fúngicos e outros medicamentos para a úlcera do estômago.

O empoderamento é mesmo isto: você trata a prisão de ventre, a febre, a constipação e a tosse no hipermercado. Entidades públicas e privadas vão pô-lo em formação contínua. Por exemplo, você vai ficar a saber quais os princípios activos mais usados pelos norte-americanos e britânicos para actos desesperados. Você vai ficar a saber que a aspirina só não pode ser tomada por pessoas com idade inferior a 12 anos, pessoas a tomar anticoagulantes ou com problemas de estômago. Ah, atenção às associações entre a aspirina e outras substâncias. A associação com cafeína pode comportar elevados riscos. Agora que você vai entrar em empoderamento irá ouvir falar em hidróxido de magnésio, hidróxido de alumínio verá que pode escolher laxantes, antitússicos e expectorantes.

Portugal é um país com elevados indicadores de automedicação responsável. É claro que há para aí gente espalhafatosa a insinuar que, só na pílula do dia seguinte, está em marcha uma calamidade silenciosa, visto que esta utilização deve ser feita a título excepcional e descobre-se agora que a maior parte das suas utilizadoras as toma regularmente, candidatando-se a doenças mortais.

Afinal, a escolha de um medicamento não pode ser feita indiscriminadamene, deve ter por base a idade do doente, o seu estado, a existência de outas doenças, os tipos de queixas, a duração e gravidade. A escolha depende ainda de outros medicametos que o doente esteja a tomar, porque há sempre o risco do aumento da toxicidade.

Se houver engano, quem paga é você, à partida. Se houver acidente, pagamos todos (por isso é que há hospitais, a emergência médica, as lavagens de estômago, os serviços de reabilitação).

Para que não haja uma calamidade de saúde pública, o seu empoderamento nos hipermercados vai ser apoiado por farmacêuticos que não existem em Portugal, o que também não é um problema. Como a missão dos hipermercados é o bem comum, certamente que esses farmacêuticos virão da Bielorrússia, Macedónia, Bulgária ou Ucrânia. Sempre fomos um país tolerante e os profissionais de saúde imigrantes gostam muito da nossa comida.

Um último aviso antes de você iniciar o seu empoderamento. Exija recomendações quanto à duração do tratamento, o que deve fazer se não melhorar ou até piorar. Recorde-se que a demora de um diagóstico pode ter consequências graves, como sucede com o cancro do estômago ou dos intestinos. Habitue-se a exigir do seu hipermercado segurança alimentar, resposta à auto-estima, e a ser tratado como num verdadeiro espaço de saúde. O mundo mudou e você agora tem o empoderamento."

quinta-feira, abril 14, 2005

guerra dos 6 anos chega ao fim

Hoje acha-se finda em fim a guerra dos 6 anos que vitimou a edificação da casa da música do Porto. A Porto 2001 já lá vai. Há muito. Mas muitos anos virão certamente para servir de mote ao convite à música - que tem finalmente agora a sua casa.

quarta-feira, abril 13, 2005

limitação da liberdade

Uma das iniciativas legislativas que se avisinha, pela mão Governo, é, entre outras, a limitação dos mandatos autárquicos e dos mandatos dos presidentes dos governos regionais. Contra a unanimidade absoluta colocada em torno desta medida - pelo pretenso valor de garantia da democraticidade do próprio sistema - há uma questão que deve ser levantada, como de resto o fez Lobo Xavier no último programa Quadratura do Círculo: a limitação dos mandatos dos presidentes de câmara e presidentes dos governos regionais - universalmente eleitos por sufrágio - não poderá constituir em si uma limitação da própria liberdade de escolha do eleitor? Nessa medida a pretensa qualidade pró-democrática da proposta legislativa cairia por terra por manifesta autofagia - porque a democraticidade do sistema não poderá passar nunca pela constrição da liberdade do voto: o instrumento singular basilar em que assenta precisamente todo o sistema democrático.

sexta-feira, abril 08, 2005

exéquias

Instantes das exéquias fúnebres de João Paulo II.

disparates estalinistas inveterados

No seguimento da aprovação do voto de pesar pela morte de João Paulo II na Assembleia da República, houve lugar - apesar da unanimidade final (porque esta gente esperneia muito mas no termo a sua voz é nula) - à grotesca emissão afirmativa de dois vergonhosos disparates estalinistas inveterados.

Revelando "reservas" (pelo típico tique do gosto pelo contrário) relativamente ao conteúdo do texto aprovado, tanto o Bloco de Esquerda (pela voz inaudita da sua mascote mais recente) como o PCP (pela voz murmurantemente decorada do pirralhito apadrinhado por Carlos Carvalhas) fizeram prova de uma inacreditável falta de noção circunstancial e de uma resistente e resticiosa conceptualidade soviética.

Porque este voto de pesar, além de uma requerida expressão de respeito pela pessoa humana, transcende largamente o domínio católico ou religioso - deve, mais, ser o curvar agradecido pela luta de Karol Wojtyla (e de Lech Walesa e Mikhaïl Gorbatchev) contra a mais terrível das espécies políticas.

Espécie política que parece desgraçadamente continuar a angariar adeptos - sem pejo nem graça.

quinta-feira, abril 07, 2005

emissão de rádio para surdos

A surdez é largamente a mais isoladora das deficiências, porque nos compromete o estabelecimento de uma ligação social que nos é primária - a oralidade - e nos faz cativos de uma atmosfera estéril de uma redoma onde nada soa.

Hoje a TSF está a dar um singular sinal de proximidade para com aqueles que nunca até hoje puderam ser seus ouvintes, inaugurando a primeira emissão de rádio para surdos em Portugal, disponível pela Internet e em telemóveis da terceira geração entre as 8:00 e as 22:00.

Memorável.

quarta-feira, abril 06, 2005

golpe hemorrágico (actualização)

Segundo informação veiculada na edição de hoje do Público, o número de mortes devido ao Vírus de Marburg em Angola ascendeu já aos 156, num total de 181 casos registados.

Este drama epidémico é desde há muito o mais mortífero e prolongado de que há registo nos anais da história deste vírus.

morreu saul bellow



Morreu Saul Bellow.

o gigante vacila

Segundo o Diário Económico, o braço feroz dos genéricos ameaça atingir a Pfizer - nº1 mundial na Indústria Farmacêutica - que até este ano vinha a somar um crescimento económico ímpar para o sector.

Há nesta notícia um aspecto muito relevante a ter em conta. Para a sustentabilidade económica das empresas inovadoras e sobretudo para fazer face ao impacto concorrencial que os medicamentos genéricos começam a impôr, torna-se decisivo equacionar soluções paralelas de diminuição das despesas para garantir o devido equilibrio relativamente à perda de receitas. Espero que este equilíbrio não passe nunca pelo congelamento da investigação, sob pena de condenarmos a I&D a retoques cosméticos de formulações e apresentações, comprometendo gravemente o progresso médico.

Há que haver razoabilidade em todas as medidas políticas. Importa decisivamente, claro, apoiar politicamente o crescimento do mercado dos medicamentos genéricos - porque é neste caso da sustentabilidade do próprio Estado que se fala. Mas importa igualmente salvaguardar que as empresas inovadoras mantém o seu espaço de manobra para estabelecerem investimentos na investigação e progessos farmacêuticos.